Por Geraldo Lima
Por baixo dos panos
A mão do outro metendo-se entre suas coxas, deslizando por baixo da calcinha, imprudente, ávida. Ela: úmida, quase louca, lutando em silêncio contra o desejo. O marido ali bem do lado, contando uma piada muito engraçada (contar piadas, o que melhor sabia fazer). Todos morrendo de rir em volta da mesa, e ela rindo também: riso, choro, gozo.
Breu
O desespero é um abismo: a pessoa age sem fio algum de razão. Naquele momento, bastava ter se acendido uma luzinha na minha mente para que o mal se esgarçasse. Eu avançava no breu. Veja, o ódio é uma coisa medonha, absurda, cegante. Depois do último estalido, o cheiro de pólvora — meu corpo recuou vazio, uma coisa oca, sem sentido, como se morresse.
Vazio
Abriu a porta e deu com ele lá, especado, tronco arcaico, desumano. Um turbilhão de imagens e rancores assaltou-lhe a mente: o passado todinho de volta, castigado pelas rugas. Pensou em fechar-lhe a porta na cara, mas não o fez. Ele sentou-se no sofá; ela, numa cadeira distante. E mergulharam num mundo sem palavras, sem gestos, sem vestígio algum de esperança.
5 comentários:
Agora, sim. Micronarrativas que podem ser sorvidas com prazer e lentamente, como o cafezinho que está no meu colo.
Geraldo, textos suculentos.
Valeu, Homero. Bom você ter saboreado essas micronarrativas, que estão, aliás, chegando ao final. Um abração.
'Vazio' é insólito porque humano. Demais.
Valeu, Parreira. Acho que o pior é isto: quando não é possível nenhum diálogo mais.
Ei Geraldo Lima, "por baixo dos panos", me deixou excitada. uau!
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