Por Cláudio B. Carlos
Cheguei, apeei do cavalo e lá estava ele, balançando, pendurado na velha figueira que como mão que protege, estendia os galhos sobre o rancho. O cusco me recebeu ganindo alvoroçadamente como que querendo me mostrar o dono enforcado. Galinhas, ao derredor da casa, ciscavam alheias. No fogão a lenha: uma chaleira com água e algumas brasas que preguiçosas se transformavam lentas em carvão. Depois da vala aberta o enrolei no poncho e o plantei próximo aos eucaliptos. Agora são duas cruzes ali: a da finada Dorvalina e a dele, onde depois de puxar pela memória algumas nênias, atei o lenço colorado. Montei a cavalo e a despacito fiz o trajeto inverso, trazendo comigo o peso do imenso vazio de quem perde um amigo. O cusco seguiu-me na modorra da tarde que se extinguia…
6 comentários:
Delícia de texto. Concisão que fala muito.
Muito bom.
Perfeito, Cláudio. Sob todos os aspectos.
Interessante como o gaúcho campeiro é retratado aqui: ele sente a morte do amigo, há o vazio da perda, há, mas a lida não para, a chaleira continua fervendo, o cusco precisa de alguém para seguir.
O que quero dizer, admiradora das coisas do Cláudio que sou, é que o mini conto é triste sem ser. Parabéns.
Parabéns mais uma vez, meu amigo. Aprecio muito esta tua maneira de contar, Com tanta economia de palavras o tanto que nos mostra.
Parabéns!
o texto do Cláudio é mesmo bom e foi um prazer encontrar o grande W. J. Solha aqui nos comentários.
Postar um comentário