Por Geraldo Lima
A
rajada de vento apanhou a folha de papel jogada sobre a ponte e a transportou
numa viagem desengonçada por sobre as águas do rio. A mulher acompanhou a trajetória
da folha até não avistá-la mais, talvez tenha caído na água e se dissolvido
toda, pensou. E no mesmo instante desejou ser aquela folha de papel e ser
arrastada pelo vento. Ser, enfim, arremessada contra uma superfície sólida ou
líquida e desaparecer inteira.
Quando
pequena, ela já sentia a vertigem de se imaginar jogando ali do alto da ponte.
O corpo, como um tronco de árvore podre, flutuava por alguns instantes e depois
era arrastado violentamente pela força da gravidade. Sua imaginação febril agia
com tanta perfeição que ela podia ouvir o som da água se esparramando toda em
ondas concêntricas assim que o corpo a tocava.
Uma
árvore de tronco podre, é assim que se sente agora. E está prestes a romper com
as raízes e tombar no vazio. Só espera a próxima rajada de vento colhê-la sem
aviso e delicadeza.
10 comentários:
Gostei, acho que mostrou com acerto as reflexões de uma pessoa que pensa em suicídio.
Obrigado, Glauber. Um abração
Geraldo Lima
um texto triste e entristecedor mas, ainda assim, muito bonito. parabéns!
Caro Geraldo. Tenho lido os textos d'O Bule e este seu me chamou a atenção pela elaboração requintada do texto e pela criatividade. Dificil encontrar quem escreva bem como você e q ao memo tempo, consiga fazer da leitura uma coisa leve e gostosa. Não li outros textos seus mas vou procurar.
Abraço,
Cristina ancona lopez
Obrigado, Maria, pelo comentário.
Um abração
Geraldo lima
Oh, Cristina, esse seu comentário me deixou bastante animado.São palavras assim que nos fazem continuar na luta. Querendo, pode acessar o meu blog BAQUE www.baque-blogdogeraldolima.blogspot.com
Um abração
Geraldo Lima
Geraldão sempre impecável!
Obrigado, Chris!!
Quantos pensamentos povoam a mente de alguém parado na borda, seja da ponte, seja da vida?
Belo texto.
De fato, Ceres, parece-me que estamos sempre calculando o salto, o risco... A borda de tudo é sempre o nosso limite. Valeu pelo comentário!
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