por Marcia Barbieri
Assumo meu papel de coadjuvante, pego a peça e decoro minhas falas, apesar da dislexia. A penumbra esconde as circunvoluções do meu cérebro confuso. Palavras coalhadas. Memórias soltas de criança.
Eu beirava os dez anos, subia nos telhados, roubava cigarros, contava as moscas ao redor dos olhos dos cavalos e buscava água fresca na biqueira. Nessa época era comum me deparar com aquelas carcaças. Ainda conseguia enxergar as grandes mandíbulas ruminantes. Escutava os estalos feito dentes vivos. As raízes se espalhavam pelo muro bambo do meu rosto. A juventude passou depressa.
Quando Caio me tocava lesmas saltavam do meu umbigo e disfarçavam a secura da minha pele. Éramos a tal ponto idênticos que nosso sexo se assemelhava a uma masturbação adolescente. Ele me beijava e o espelho tão escuro não refletia o suicídio assombroso das minhas órbitas.
7 comentários:
"O desamor se paga com muita punheta": fodástico! Este adjetivo cai como uma luva para seu texto. Seu talento literário é fora de série, Marcia. Não há um conto seu que não me balance, não me arranque do meu lugar-comum, pois todo lugar é comum antes de ser fundada a nova cidade incomparável de seu talento.
Parabéns,
Lohan.
"O desamor se paga com muita punheta":
Talvez seja mais que punheta.
"Quando tropecei num eu menor à beira do abismo, vc foi a aranha cuja teia tentou evitar a queda, mas os fios eram muito delicados. Agora
Caio
Caio
Caio,
enquanto a aranha sai do abismo,
ganha a floresta
e desbanca o leão
Tão preocupada com o suicídio de suas próprias órbitas, ou será que é com o vestido da noite de gala?
Interessante como fragmentos podem nos levar a compor um enredo e recriar uma possível história.
Sei lá, mas cada vez mais me convenço que todo e qualquer comentário meu é insuficiente. Com as minhas palavras não alcanço as palavras da Márcia!
Sinto-me extasiado com os textos dessa guria.
Bom ler os comentários!!!! Obrigada de novo!!!
beijos a todos
Eu que tanto escrevi e cometei seus escritos diante de tal texto não tenho o que dizer... a não ser, sobre o "homem ordinário", acredito que não exista na ficção... na ficção está mais pra extraordinário!
E como sempre lindo texto, espero ansiosamente o lançamento de seu livro! Bjão!XD =*
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