* Os capítulos 13 a 17 do folhetim podem ser lidos AQUI
18 –
No sábado, duas semanas depois do primeiro
encontro, num dia de folga de Geisel, o telefone tocou. “Alô?” Era Jéssica: “Oi,
meu anjo. Estava com saudade de mim? Eu estava morrendo de saudade de você.
Recebeu meu recado? – rápida. – Eu
liguei para a Marina falando, na terça-feira de manhã, depois daquele domingo
que falei que iria à sua casa, já em Patos de Minas, o que tinha acontecido.”
O rapaz, mesmo estranhando a intimidade com que estava sendo tratado, gostou.
“Calma, calma... Eu fiquei sabendo, sim.
Se preocupa, não. Está tudo bem.” “É porque eu fiquei preocupada de você
achar ruim.” “Não, não achei. Já está tudo bem com sua vó?” “Ah, mais ou
menos. Mas eu não quero falar nisso, não. Vamos sair hoje?” “Era exatamente o que eu ia falar.
Vamos, sim. Onde você quer ir?” “Por mim, em qualquer lugar. Mas você não
vai me ‘cortar’ não, né?”
“Como assim?” “Estou brincando, bobo. Nada, não.” Geisel escolheu o local. Falou-lhe que não se preocupasse em
ir bem vestida. “Por quê? – estranhou.” “Você vai ver o porquê.”
19 –
Geisel, sempre com seu Chevette 89, foi buscar a moça em sua
casa no Jardim Patrícia, bairro de classe média alta da cidade. Quando a viu sentiu algo que há muito
tempo não sentia. Gostou e, sem a outra perceber, sorriu da própria emoção. Um
sorriso moderado, e não expansivo, com o qual poderia ser reparado. Ela, após
sair pelo portão menor, cor bronze, abraçou-o de tal maneira que ele se
arrepiou. Assustou-se, mas gostou. Ela continuava o entrelaçando e murmurava
que estava com saudade, com muita saudade. Geisel, sem perceber, rendia-se e
dizia que também, também sentira saudade. No meio do caminho ela perguntava
aonde eles estavam indo, curiosidade expressa nos olhos e na entonação da voz:
Onde? Fala, vai. Onde vamos? “Segredo, – Geisel respondia – segredo.” “Já estou
ficando com medo, viu – ela brincava.” Passaram pelo shopping, subiam pela
avenida João Naves de Ávila, iluminada com luz alaranjada, um letreiro
eletrônico na esquina com a Rondo Pacheco mostrando, sucessivamente: Uberlândia, Terra Fértil. Os carros,
muitos, passavam ao lado. Logo após entraram pelo portão do campus da
Universidade Federal de Uberlândia, que ficava na mesma avenida, poucos
quarteirões acima do shopping. Jéssica estranhou. “Hoje tem uma festa da
Geografia aqui muito legal – Geisel explicou.” “Ah...” Jovens andavam em grupo,
conversando e rindo. Alguns, em dupla, de mãos dadas. Outros fumavam e bebiam.
Estacionou o carro e foram para um banco, na pracinha, perto do bloco de Economia.
Sentaram-se. Em torno havia árvores altas, densas e bem folheadas. A uma
razoável distância, um banco do lado do outro. Nesses bancos, casais
conversavam, riam e namoravam. Um vento brando balançava os cabelos de Jéssica
e de Geisel, sobretudo os lisos do rapaz. Conversavam o mais naturalmente
possível, sem se sentirem constrangidos. Geisel, diferente do outro dia, no
qual não deu muita abertura para que acontecesse algo, nesse dia dava toda
abertura possível. Charmoso, olhava a moça. Às vezes sorriam juntos por causa
de uma anedota, ora contada por Geisel, ora por Jéssica, que contava tão
incrivelmente, fazendo gestos, alterando a voz à medida que os personagens
mudavam, rindo antes mesmo de terminá-la. Mais para cima, próximo ao bloco da
Música e das Artes Cênicas, ouviu-se um som de uma música. As poucas pessoas
que aqui embaixo se encontravam, subiram a fim de ouvir a banda alternativa
tocar. Geisel e Jéssica ficaram sozinhos. O que há muito poderia ter acontecido
e os dois pareciam querer muito, ocorreu de forma tão espontânea e aprazível
que nenhum dos dois dava o primeiro passo para pôr um fim: o primeiro beijo do
casal. Ficaram, sob a iluminação amarelada, se beijando por uns cinco minutos,
com tal entrosamento que parecia um casal de namorados que há muito se
conhecia. “Faz duas semanas que estou esperando por isso – disse Jéssica,
rendida.” “Eu também – ele, aos poucos, vencia a resistência.” Depois do beijo,
criou-se entre eles uma intimidade inexplicável. Geisel perguntou se podia
deitar em seu colo. Jéssica sorriu e deixou. A luz do poste, que se direcionava
ao rosto de Geisel, ressaltava seus olhos verdes. “Seus olhos são tão bonitos.
Lindos mesmo – dizia Jéssica.” Falava e olhava de forma diferente do que todas
as outras já o olharam. Ele gostava desse olhar. Não havia nada naquele momento
que podia atrapalhá-los.
.
* Dia 13 de agosto, aqui n'O BULE, a continuação do folhetim Meus olhos verdes.
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