
1
Caminho em silêncio, guiado pela luz do cigarro.
Meus passos iluminam as coisas: um poste, a calçada, um gato.
A solidão que me acompanha reclama do frio.
Eu insisto que é verão.
Discutimos.
Mas não há quem nos separe.
2
O destino se intromete e transforma as coisas:
— o teu em nosso
— o nosso em meu
— o meu em vosso.
Aí eu pergunto:
— Posso?
3
Troquei o sorriso pela felicidade.
E a felicidade era tanta que eu precisei sorrir.
Mas já não havia como.
4
O passado volta e meia se faz presente:
— aparece no supermercado
— sorri com dentes antigos no metrô
— acena com a mão de um velho amigo
— surge cinzento bem no meio de uma tarde colorida
O futuro em nada se diferencia. A não ser, talvez, pelo ponto de vista.
5
A minha mãe vem da morte pra me visitar.
Diz que estou magro
que só engordo palavras
solitário demais neste mundo que se faz a dois
que sabe dos meus cigarros
e que lamenta as minhas garrafas.
Essa aí a minha mãe, que ocupa a sua morte com a minha vida.
7 comentários:
Prezado Claudio, texto maravilhoso, de profunda e maginifica ins.....piração. "fossa" deliciosa. Tivera talento para musi(cá-lo). Problema de vocabulário pequeno que tenho. Real// meu caro, vc. está mais uma vez, arrraaasssaaannntteee!!! Abs.
Olá! Gostei muitíssimo desses textículos agravantes. Você é um grande Poeta. Posso publicá-lo no meu blog? Saludos. Maria José Limeira.
Oi, Limeira!
Pode publicar no seu blog, sim.
Agradeço a visita e o comentário!
Parreira,
Um tanto mais poético dessa vez? Ou seria mais reflexivo? Acho que principalmente com um eixo "polarizador" mais forte. Fico aqui conjecturando as facetas do mesmo sujeito e suas 5 faces.
Abraços.
Poesia à flor da pele, essencial, capaz de nos arrancar da insensibilidade.
Parrêrão, isso aqui é uma escola pra garotos esfaimados como eu! Passarei mais por aqui, beberei mais desse bule, meu vigarista preferido!
Grande abraço, nego!
Dan (@danielbarbosa_)
E aí, Daniel? Gostou mesmo do café?
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