
Por Claudio Parreira
“Combino palavras com muito silêncio.
Poucas palavras.
As palavras que gritam.”
Aborto Celeste, p. 89
H.P. BRUESCH
Poucas palavras.
As palavras que gritam.”
Aborto Celeste, p. 89
H.P. BRUESCH
1521
1
De todos os modos de fazer
eu prefiro o fazer de menos.
Não por medo
– que escrever já é uma coragem
mas por preguiça mesmo
essa musa vagabunda
minha parceira
de ócios e ofícios.
2
Antigos amantes, bruxa e inquisidor se encontram no cárcere.
– O fogo libera a tua alma – ele diz.
– E o desejo aprisiona o teu corpo – ela responde.
Mais tarde o Santo Ofício queima a bruxa. Mas quem arde é o inquisidor.
3
Hoje encontro no espelho um rosto de ontem.
Aquilo que fui.
O sorriso que dei.
Ainda bem.
Triste é o espelho que revela o que vai ser.
4
Ele acorda de madrugada suando e reclamando das garras e dos leões que rugem.
– É sonho – diz a mulher sem abrir os olhos. – Vê se dorme, pô!
De manhã ela acorda e a poça de sangue no lençol dá notícias do futuro.
5
Tenho um nome que não me chama.
Uma religião que não é minha.
E um monte de deveres que não me pertencem.
O silêncio e as palavras são os meus únicos bens.
Acrescidos de uma solidão que não cabe aqui.
12 comentários:
Pô, genial, adorei!
Nacos de Necas preencherá uma espaço importante em nosso Bule. Massa, Parreira. Manda ver!
É isso aí! Muito bom!
Eu quero mais um naquinho...
"(...) Acrescidos de uma solidão que não cabe aqui."
Se não cabe aí, transborda para cá. Serei eu solitário afogando em sua solidão? Duas solidões não será mais solidão? Presença? Ou solidão a dois?
:)
Gente, brigadão pelos comentários e visitas. Tava meio inseguro quanto aos textos, mas acho que vai dar certo. Logo logo tem mais!
Claudio, muito legal.
A velocidade não é de um QUADCORE como disse do Homero, hahaha, mas é uma profusão de pensamentos que parece que vai aumentar com o tempo ("Logo logo tem mais!").
Cada parte com seu ponto todos colocando LADOS: A desvalorização da parceria por um, o duelo dos pontos de vista de 2, a consciência de um sobre o tempo, a importância do "sonho" dada por cada lado e por fim a noção do TER pelo último.
Nada de textos "imparciais", pura parcialidade.
Muito legal.
Abraço.
Um Claudio Parreira diferente. Ou estou enganado?
O Parreira é um camaleão, meu filho!
Excelente Parreira. Principalmente pela síntese. Outro escreveria um compêndio para cada um. Abração
O que falta é botar essas coisas no papel, isto é, publicar em livro de papel, que ainda é insubstituível.
Gil Cleber
Zenalim: tenho compendiuns tb, mas essa é uma outra história.
Gil Cleber: quem sabe em breve tb em papel? Uma questão de tempo.
Postar um comentário