Por Geraldo Lima
Presa
Penetrei-a com instrumento rombudo, ferro em brasa. Os movimentos do corpo: bruscos, violentos, quase desesperados. A presa, acuada: alguns gemidos — chorando pra dentro — e nenhum espasmo.
Descarte
Isso que você chama de amor não existe. Existe, sim, esse deserto aí, esta pedra, aquela poça de lama... Uma linguagem toda foi criada para nos enredar, nos deixar à deriva no mar de ilusões. Mas você crê. Contra a crença, nada se pode fazer. Cega, e esse homem arrastando-a para o abismo.
Cardume
Sento-me, pernas cruzadas, nesga de carne à mostra: a isca. O mínimo de reputação preservado. Se olhar para mim, fisgo-o — peixe graúdo em meio à miudeza. Deve se debater: o macho surpreendido em sua rotina de caça. Mas devo me manter firme, arrastando-o até aqui só com o arpão do olhar.
6 comentários:
Como sempre, Geraldo Lima, você quando escreve é muito intenso e denso. Como sempre, ótimo.
Gostei muito, realmente uma literatura bem intensa apesar das poucas linhas. O que prova que nem sempre escrever páginas e páginas renderá textos impactantes.
Abraços, até!
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Mariany Carvalho
http://badu-laques.blogspot.com/
Incrível que o microconto "Descarte"
diz tudo que o livro "Um" diz em tantas páginas...
Diz um certo teórico que o conto é primo primeiro da poesia...
Grande Abraço. Paulo Siqueira.
Incrível que o conto "Descarte"
parece um rsumo do livro "Um", do mesmo autor. Paulo Siqueira.
A todos, muito obrigado pelo comentário. Cada vez mais denso, esse o meu objetivo com o texto literário.
Um abração.
minis bem trabalhados. Artesania rara.
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